sábado, 27 de março de 2010

Os outros

Li não sei onde sobre uma interessante doença moderna chamada “normose”. Todos imaginamos um padrão pessoal que consideramos normal e, se não conseguimos alcançá-lo, entramos em depressão, angústia, enfim, tornamo-nos infelizes. “Normal” seria um indivíduo jovem, magro, atlético, que pode comprar o que bem entender, admirado por seus semelhantes, importante para sua comunidade, bem vestido e simpático. Seria a pessoa ideal que os outros esperam de nós.

A pergunta fundamental é: quem são os outros? Onde está este João, Pedro, Maria ou Ana que nos controlam e conferem constantemente se estamos ou não afastados deste ideal hipotético? Será que o padeiro, vizinho, empregado ou patrão realmente estão preocupados com a nossa aparência ou cada um está cuidando de si mesmo?

Não será um grande equívoco achar que o mundo se preocupa demais com a gente? Sempre que temos notícias de pessoas que partiram para outra vida nos surpreendemos ou emocionamos em diferentes graus, mas depois as esquecemos como todos que já se foram. Por que seríamos diferentes delas, importantíssimos e insubstituíveis?

Precisamos nos dar conta de que só somos importantes para quem gosta e precisa de nós. Para estes, provavelmente, não existe um padrão ideal que gostariam de ver na nossa pessoa. Quem sabe nos preferem assim mesmo, com a nossa personalidade, caráter e coragem de enfrentar a vida ao seu lado? Da segurança que transmitimos? Quem sabe nos amam pelo que somos e não estão buscando alguém que nunca seremos?

Em primeiro lugar precisamos nos dar conta de que somos importantes para nós mesmos. Sem estima e respeito próprios não prestamos para nada; nem para o mundo, nem para os próximos e nem para nós. Aceitar-nos tranquilamente é um caminho muito bom para a saúde física e mental. Esta aceitação, que nada tem de vaidade, normalmente vem acompanhada de paz de espírito.

Aqueles que você admira acaso não têm personalidade própria e enfrentam a vida do seu jeito? Seja você mesmo, então! Esta angústia de ser o que os outros esperam de nós é absurda pela simples razão de que “os outros” só existem em nossa imaginação.


Gilberto Scopel de Morais